O MONGE, O EXECUTIVO E A DECEPÇÃO

Estou convicto de que nunca serei um monge. Li, ou melhor, tentei ler, o livro "O Monge e o Executivo" do James C. Hunter, que elenca uma série de ensinamentos que, segundo o autor , mostra como ser o que ele chama de "líder servidor". A minha primeira impressão foi de que estava diante de um bom livro. Um prólogo muito bem escrito que prepara você para algo que não vem. Não existe ninguém tão perfeito quanto o Simeão inventado pelo Hunter, ele parece o mestre do Gafanhoto da série Kung fu, tem resposta desconcertante pra qualquer pergunta. Se a idéia do Hunter era me "auto-ajudar", o tiro saiu pela culatra. Irritado, larguei o livro e fui ler a Continente, a melhor revista do (meu) mundo. Dei de cara com uma excelente matéria do Fernando Monteiro: "Os 100 Mais Vendidos", referindo-se aos livros. Acabei tendo acesso a uma informação que acabou de vez com o meu dia (mês, ano, século...). O texto trazia a relação dos seis livros mais vendidos de todos os tempos, que são, na ordem: A "Bíblia Sagrada", 0 "Alcorão", o "Livro de Pensamentos de Mão", "Dom Quixote" , o "Livro dos Mórmons" e, pasmem, "Harry Potter e a Pedra Filosofal". Pensei, cá com os meus cds: "Nas escolas do Brasil (país onde tantos passam fome e muitos morrem de inanição) quase ninguém conhece Josué de Castro e eu questionando lista de vendagem de livros". Tomei um café e fui dormir.

Reedição.

Comments

12 Responses to “O MONGE, O EXECUTIVO E A DECEPÇÃO”

Anônimo disse...
1 de janeiro de 2008 às 11:11

Caro Ed,

encontrei, por acaso, seu post que cita uma matéria da qual também eu também gostei muito, na revista Continente de dezembro: "Os 100 mais vendidos". Acontece que existe um texto complementar dela, que o Monteiro enviou para o blog "Sunstantivo Plural" http://www.substantivoplural.com.br/artigo.htm, do jornalista natalense Tácito Costa, que o publicou em 24/12/2007, na seção "Artigo"). Como eu, acho que vc também gostará de conhecer esse texto que o escritor chamou de "complementar" daquele:

UM OUTRO PLANETA
(ou Complementando o Texto sobre "Os 100 livros Mais Vendidos")

Por FERNANDO MONTEIRO (*)

Em menos de um quarto de século, o que aconteceu com a cabeça do leitor brasileiro? Isto é, com o seu gosto, a sua qualidade, os seus interesses? Há 26 anos, a revista VEJA – na edição de 12 de agosto de 1981 – estampava, nas páginas finais dedicadas à cultura, uma longa matéria não assinada ("Qualidade é sucesso") sobre "a volta da boa literatura, com os clássicos na livraria e 'Memórias de Adriano' – de Marguerite Yourcenar – comemorando um semestre na lista dos mais vendidos no país". Havia outras obras de alta qualidade, naquela edição, na lista publicada, semanalmente, desde junho de 1973, com tal impacto que muitas livrarias (aqui no Recife, a extinta Livro Sete, por exemplo, o fazia) exibiam um cartaz anunciando "os mais vendidos da VEJA" nas bancadas com todos os livros "mais-mais" reunidos atrativamente.

Nos EUA, era já antiga a prática de tais listas, naquela altura – como a do jornal "The New York Times" na posição de mais influente. Exatamente no ano em que a revista brasileira inaugurava a sua lista, Gore Vidal havia se debruçado, num artigo, sobre as listas do jornal americano (por sinal, descobrindo – segundo ele – que a "arte de escrever" estava se transformando na "arte de escrever para o cinema"), e eu vou imitá-lo, complementando um artigo - recentemente transcrito pelo Tácito, neste "Substantivo Plural" bem editado - http://www.substantivoplural.com.br/artigo.htm - debruçando-me sobre as listas da VEJA, que foram imitadas por ISTO É e ÉPOCA, na seqüência dos anos.

A primeira "relação dos livros mais vendidos", publicada há 34 anos, apresentava um romance de Érico Veríssimo – "Incidente em Antares" –, o estudo "A Hegemonia dos Estados Unidos", de Celso Furtado, e um ensaio do americano Alvin Toffler (alguém se lembra do "futurólogo"?), então campeão de vendas no mundo inteiro: "O Choque do Futuro". Um ano depois, consultando-se as listas do mês de março, Érico comparece com o primeiro volume de sua autobiografia, "Solo de Clarineta", e "O Exorcista", de William P. Blatty, era o primeiro entre os estrangeiros, na altura em que a revista separava apenas obras nacionais e estrangeiras (a ficção se misturando com a não-ficção etc).

Pulemos uma meia dúzia de anos, agora, para avançar até o "portal da glória" das listas de 1981, mais do que surpreendentes: o leitor brasileiro de então estava lendo, em primeiríssimo lugar (e ao longo de cinco meses), o já citado "Memórias de Adriano", ficção baseada em rigorosas pesquisas da Yourcenar sobre o imperador romano do século II ("o século dos últimos homens livres", segundo a autora belga). Em seguida, o voraz leitor tupiniquim daquela época estava atraído para um bom romance de Antônio Callado, intitulado "Sempreviva", e para o sucesso do cinema "O Beijo da Mulher-Aranha", de Manuel Puig (olha o cinema de novo aí, depois de "O Exorcista", para dar razão àquela "boutade" de Gore Vidal). Prosseguindo: "Um Homem", de Oriana Fallaci, e "O Livro dos Seres Imaginários", de Jorge Luis Borges, eram a quarta e a quinta preferências, respectivamente... e, antes de dar o sexto livro naquela lista, faço uma pausa de "suspense" porque, nesse lugar, estava posicionado – com, atenção!, CINCO MIL mil exemplares vendidos em um mês – nada mais nada menos que "Poesia", de T. S. Eliot!, acreditem ou não. Poeta difícil e requintado, Eliot estava sendo lido amplamente cá em Pindorama, com a primeira edição da antologia esgotada no PRIMEIRO mês do lançamento, no segundo semestre de 1981, cuja dourada lista dos "mais vendidos" (na VEJA de 12 de agosto) também trazia, na sétima posição, uma obra do excelente Julio Cortázar – "Alguém que Anda por aí" –, seguida... sabem do quê? De nada menos que "Em Busca do Tempo Perdido", a obra-prima de Proust, em sete volumes esgotados em dois meses!

Tácito Costa, você se lembra da nossa mesa de debates - tão recente - no II ENE? Diante dessas listas dos "mais vendidos" há mais de vinte anos, creio que CABE PERGUNTAR, realmente: o que aconteceu, desde então, com a cabeça dos nossos leitores? Que tipo de "lavagem cerebral" foi feita? No país das mesmas 400 livrarias de sempre (o número não muda? Já em 1981, era essa a estimativa), além de "Memórias de Adriano" como livro de cabeceira etc, dava-se o fenômeno dos 190.000 exemplares de "Os Irmãos Karamazov", de Dostoievski, vendidos em bancas de revista, na coleção Gênios da Literatura (Abril), selecionada com notável apuro. Pergunto: o que deu errado? Conferindo as listas dos anos seguintes, vejo que o ano do "impeachment" do aloprado Fernando Collor e da posse do engordurado topete de Itamar Franco (1992) assinala o aparecimento do inefável acadêmico Paulo Coelho nas listas decaídas que, em lugar de Marguerite Youcenar e T. S. Eliot, passam a trazer romances de Sidney Sheldon (arhg!) e outras porcarias editadas pela Record na frente de outras editoras, também a disputarem o lixo literário internacional.

Posso dar um depoimento? Em 1998, quando a diretora editorial da Record - Luciana Villas Boas - veio ao Recife expressamente para contratar três dos meus livros ("A Cabeça no Fundo do Entulho", "Aspades Ets, Etc" e "T. E. Lawrence: Morte Num Ano de Sombra"), a moça me disse que a sua editora estava "em busca da qualidade perdida" no meio da montanha de dinheiro que o patrão, Sérgio Machado, ganhava com "best-sellers" descartáveis. Talvez Sérgio tivesse autorizado a "busca" referida por Luciana, em homenagem ao pai, o velho editor Alfredo Machado, que assim comentara o sucesso de público de "Em Busca do Tempo Perdido", no ano de 1981: "No caso da reedição de Proust, o que mudou foi o editor, não o leitor, porque Proust em qualquer época faria sucesso". Será? Se você for ver o que aparece nas listas da VEJA, vinte e seis anos depois, não parece que Proust pudesse obter muito êxito, com a fina renda da sua literatura, entre preferências descidas até aquelas 89 bobagens por nós listadas, no texto "Os 100 livros mais vendidos" (em setembro, outubro e novembro deste ano que está findando, rápido como o gosto que mudou.

É "AQUILO" o que o público leitor está comprando e lendo. Confiram no texto (está um pouco mais abaixo, publicado pelo Tácito no começo de dezembro), comparem com as obras que os brasileiros estavam comprando e lendo, há mais de duas décadas (e até menos), e respondam ligeirinho: "espelho-meu-espelho-meu, existe leitor mais medíocre do que o que apareceu?"... É a altura certa, talvez, para lembrar o que disse o romancista Márcio Souza (que já foi editor também, na "Marco Zero"), em 1994, numa reportagem de Rinaldo Gama justamente sobre as listas dos livros mais vendidos da VEJA: "Criamos o que eu chamo de literatura de sobrevivência. A classe média vai gastar seu dinheiro lendo Dostoievski ou lendo um livro de informática que pode lhe abrir espaço para ganhar dinheiro?". Ou seja, o livro teria ganho uma "função" utilitária, imediata e prioritária para os leitores de hoje. Pode ser "ajudar" a ganhar dinheiro ou "arrumar" emprego, "melhorar" o casamento, afastar o estresse, dar dicas para "orientar" filhos (tudo com aspas) ou para comprar produtos naturais de bom preço nos Comprebem-bem-bem, etc. Comprar, aliás, ganhar e ter vantagens, vencer a corrida do nada (para nada levar, está claro), é o que parece importar, acima de tudo, no mundo do aqui-e-agora, neste vale do "vale a pena tudo" – desde esse tudo seja muito pequeno.

Na diminuta vida dos anões mentais em que vamos nos tornando, neste mundo hegemônico do capitalismo triunfante na sociedade de consumo de massa denunciada, vigorosamente, pelo sacrificado Pier Paolo Pasolini, as memórias fictícias de um imperador romano morto há quase dois mil anos realmente não voltarão jamais – suponho – à posição de leitura de cabeceira, de praia ou de qualquer outro lugar deste deserto que é, sim, a "terra desolada" dos homens ocos de Eliot -- aquele poeta lido, uma vez, aqui no que parece, agora, um outro planeta.

(*) Escritor. Incluído em: 24/12/2007

ED CAVALCANTE disse...
1 de janeiro de 2008 às 20:49

Caro amigo,fico grato pela contribuição. Li o texto complementar e gostei bastante do blog do Tácito Costa,ele já faz parte da lista de canais preferidos da Jornália. Volte sempre! abraço!

Douglas disse...
21 de agosto de 2008 às 21:29

Seu blog é interessante mas achei esse texto meio confuso,vc mudou de assunto três vezes do nada.Do mesmo jeito gostei do seu blog.

http://blog-podre.blogspot.com/

ED CAVALCANTE disse...
21 de agosto de 2008 às 21:39

DOUGLAS, EU NÃO MUDEI DE ASSUNTO, FALEI DE LIVROS DO COMEÇO AO FIM.

blog disse...
22 de agosto de 2008 às 00:07

Interessante, Ed.
Sou da época em que "A Alegria de Cozinhar", de uma senhora norte-americana de origem polonesa (o nome é impronunciável), era o mais vendido.
Em termos proporcionais, batia a Bíblia fácil.

Auto-ajuda para mim não funciona. Gosto mesmo é de ser auxiliado. ficar paradão e deixar que façam o trabalho para mim.
Ou quase.

Abraço.

Bete Meira disse...
22 de agosto de 2008 às 00:15

Ed,vc me indicou esse livro na Bienal,lembra?Disse que era muito bom!Quer dizer que indicou antes de ler?Isso enfraquece a relação.Vou ler e depois comento de novo.Concordo com a decadência no gosto literário do povo,mas,como professora de português,digo aos meus alunos que é válido todo tipo de leitura,para começar: gibi,revista,jornal,bula de remédio,propagandas,para que desenvolvam o gosto pela leitura. Não gosto de Paulo Coelho,mesmo sem ter lido seus livros,e gostei dos livros de Sheldon que li.Seu texto foi perfeito e coerente,talvez o rapaz se refira ao primeiro comentário,por ser grande,pode tê-lo confundido. Beijão!

ED CAVALCANTE disse...
22 de agosto de 2008 às 08:00

ENTÃO, BETE, FOI POR ISSO QUE CITEI MINHA DECEPÇÃO NO TÍTULO. ESSE LIVRO ME FOI INDICADO POR ALGUNS AMIGOS DE GOSTO APURADO,ENTÃO EU SEMPRE INDICAVA TAMBÉM. QUANDO FUI CONFERIR CAÍ DO CAVALO. ENTRETANTO, ACHO QUE VOCÊ GOSTARIA, É A SUA CAAAAAAAARA.

Erich Pontoldio disse...
22 de agosto de 2008 às 10:07

Eu tbm comecei a ler o monge e o executivo e parei ... fiquei decepcionado pra falar a verdade.
Eu sei que existem retiros e ttreinamentos que juntam espiritualidade com empreendedorismo, mas os mestres ( se assim podemos chama-los ) são pessoas que tem o dom da palavra, são grandes comunicadores e tem um grande conhecimento acumulado através de livros e vivecias em multinacionais.
Realmente um Simeão eu ainda não conheci.

Leonardo disse...
22 de agosto de 2008 às 22:17

muito bom o post...
bem interessante o blog

Abraços!

Provisório disse...
22 de agosto de 2008 às 22:21

nunca li...
mas sempre escutei elogios...
vou procurar averiguar

qando puder
www.prolixolaconico.blogspot.com

Sammyra Santana disse...
23 de agosto de 2008 às 00:20

é, meu caro Ed... num mundo onde "créu" e "chupa que é de uva" entram na lista das mais ouvidas, não duvido nadinha que "harry potter" esteja na lista dos mais vendidos...
aonde iremos parar? sinceramente não sei e tenho até medo de pensar...
Beijinhos

Alcione Torres disse...
23 de agosto de 2008 às 00:39

Ed, as pessoas não podem viver sempre voltados a coisas sérias. Diversão sem compromisso é preciso.
Agora esse "auto-ajuda" (pois só auto-ajuda ao autor que ganha com as vendas!) aí é que não me desce! Esse tipo de livro tosco, para enganar besta, deveria ser queimado em praça pública!
Prefiro muito mais o Harry Potter (Nunca li, mas vi o filme! rsrs)

http://sodesafio.blogspot.com/

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