
Outro dia, assistindo ao filme “Capítulo 27”, que conta a história do assassinato de John Lennon sob a ótica do seu algoz, Mark Chapman, acabei percebendo uma coisa: algumas pessoas e alguns lugares entraram para história alavancados pelo mórbido marketing de um crime. No caso do assassinato do Lennon, um lugar e duas obras foram “beneficiados”. O lugar, claro, o soturno edifício Dakota, onde tudo aconteceu. O prédio (construído no século XIX) também foi cenário do filme “O Bebê de Rosemary” e sempre atraiu a atenção das pessoas por conta dessa aura mórbida. A obra: O livro do J. D. Salinger, “o Apanhador No Campo de Centeio”, que Chapman trazia consigo no dia do crime e que ficou folheando após consumar o ato. Durante suas viagens psíquicas ele imaginava ser o "Holden Caulfield", personagem principal do livro. A outra obra é a música dos Beatles, “Helter Stelker”, que Mark Chapman gostava justamente por estar ligada a outro crime: Em 1969, a atriz “Sharon Tate” (A Dança dos Vampiros), esposa de Roman Polanski, foi morta pelo lunático “Charles Manson” e por seus seguidores, que alegaram ter se inspirado na canção para cometer o crime.
A cidade de “La Higuera”, na Bolívia, é mundialmente conhecida porque foi palco de uma morte ilustre: no dia 09 de outubro de 1967, Ernesto Guevara de La Serna, o “Che Guevara” , foi morto pelo exército boliviano. A cidade vive do turismo e das lembranças dessa ilustre tragédia. História parecida aconteceu em “Angicos”, uma fazenda do sertão de Sergipe. Nesse local o cangaceiro “Lampião” foi morto junto com seu bando. O lugar é conhecido no nordeste inteiro como “a última parada de Lampião”. A clássica (e mórbida) imagem das cabeças expostas na escadaria da fazenda (que você confere clicando aqui) correu o mundo, foi publicada no New York Times.
O lugar mais famoso e visitado da cidade de “Dallas” (EUA) é a avenida “Dealey Plaza”. O local ficou mundialmente conhecido no dia 22 de novembro de 1963 quando, diante de uma multidão e das câmeras de TV, o presidente dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy, foi assassinado. Turistas que visitam a cidade fazem questão de tirar uma foto no local. Na avenida, existe uma demarcação no asfalto indicando o local exato da tragédia.
Termino esse post lembrando-me de Hiroshima e Nagazaki. Essas duas cidades entraram para a história com o mórbido marketing de aproximadamente 200 mil mortos. No espaço de três dias, duas bombas atômicas, “Little Boy” e “Fat Man”, produziram uma carnificina que trasformou essas duas cidades em símbolos eternos da estupidez humana. Melhor seria o anonimato.
Comments
15 Responses to “MÓRBIDO MARKETING (ENSAIO SOBRE A TRISTEZA)”
Uma postagem no mínimo curiosa, Ed, sobre morte e publicidade. Holden Caufield, o célebre "revoltado" de Salinger, não merecia ser citado por Chapman, afinal HC é um personagem positivo, intrigante - apesar de parecer o contrário.
Só uma pergunta: Che não morreu em 1967?
Abraço.
Certíssimo, Grijó, o Che Guervara morreu em 1967. Foi um lapso já corrigido!
Obrigado!
Bem... eu não entendo muito este assunto pois sou muito novo! (14 anos)
Pra mim isso tudo é abrobinha, mas quero parabenizar o autor do blog. O blog é simples e muito bem organizado, tudo certinho. Parabéns!
http://maluconews.blogspot.com/
Muito boom! Muito bem escrito, muito bem pensado!
Boa noite!
É este post me fez pensar quantas vidas, fatos e coincidêcias ligam um lugar ao resto do mundo.
Alegre ou triste, amado ou odiado, traz lembranças suaves ou densas?
Tudo depende a experiência de cada indivíduo.
Isto é mesmo um fato. Lembramos mais das bizarrices e eventos mórbidos do que as coisas agradáveis. A mídia ajuda... Li esta semana sobre Mark Chapman e em como, até hoje, ele narra o acontecido, para os ouvintes ávidos de morbidez. Acho que o filme que farão é baseado neste livro que você cita, a história sob a ótica dele.
Gostei da lembrança do delicioso filme "Dança com Vampiros" de Roman Polansky, embora tenha sido citado em uma situação tão triste.
Quero também agradecer sua visita e espero que continue acompanhando o conto. Ainda virão mais emoções impróprias.
Beijos
Destino ou Acaso ?
Segundos algumas pessoas... DEja vu, seria qndo vc se vê em uma cena até então já vivida por Vc, em uma outra ocasião!
Talves fosse o tal do deja vu, que aconteceu no mundo.. ainda acontece né.
Ah Certas Tragedias que eu fico mero desconfiado.. com a pulga atras da orelha..
Mas é isso ai, gostei do Post!
Ed, é incrível como coisas negativas, muitas vezes, mais que as positivas, se tornam inesquecíveis...
Parabéns pelo blog e pelo texto
Abraços,
Dany Z.
Toda vez que saio em visita guiado por alguma cidade, o guia sempre mostra os locais trágicos. No final do passeio adivinha o que é que vc lembra??? Lógico...a tragédia chama muito mais a atenção.
Acho que estou precisando me atualizar um pouco... nunca assisti nenhum dos filmes citados, nem o livro, nem a música =D Mas conheço a foto com as cabeças expostas, uma foto daquela é difícil de esquecer...
Parabéns,ED!Mais um texto muito bem escrito e verdadeiro.Concordo que melhor seria ficar no anonimato do que ser lembrado por tragédias!
Adorno está impaciente em sua cova. O marketing cultural sempre se apoiou naquilo que não é a obra. Grandes obras que só tem tamanha proporção graças a fatores externos, sejam eles crimes, acidentes ou não. O ultimo capitulo dessa história é o filme do Batman, nada poderia alavancar mais o filme que a morte de Ledger.
Po muito legal,axo que vc devia fazer um parte II desse post,falando de fatos brasileiros relacionados ao assunto,tipo o edificio joelma.
Nossa, quantos fatos interligados. Mas a morbidez sempre atraiu a maioria das pessoas. É só ver o caso do "momento", o dessa moça que foi assassinada pelo namorado maluco depois de mantê-la presa durante dias com a amiga. Se uma mera desconhecida conseguiu juntar 5 mil num enterro, imagine o que personalidades como essas que vc citou? É curiosidade pra sempre.
Bjos.
Muito legal teu blog! Se puder me visite, http://sindromemm.blogspot.com
Valeu!
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