O REVOLVER MUDOU MINHA VIDA

Por: Sidclay Pereira - Posso dizer que existe uma vida antes e depois o Revolver.

Eu já conhecia Beatles, claro! Help foi a música que marcou uma parte da minha infância, despertando meu interesse não apenas como apreciador, mas como um fã de música. A partir de Help eu comecei a buscar música e não apenas esperar que ela viesse até mim através do rádio ou TV, o que era de costume para a grande maioria das pessoas.

Em 1993 eu estudava num colégio no centro de Recife que ficava a cerca de 200 m de uma famosa loja de discos que misturava coisas novas com raridades (uma das poucas do gênero que ainda hoje existe). Era um oásis para colecionadores naquela época.

Fiquei durante três semanas visitando a loja, apreciando aquele amontoado de Lp´s, camisas e VHS, cd ainda era algo apenas para quem tinha muito dinheiro. Numa tarde de terça-feira fui lá para comprar o meu primeiro LP! De certa forma eu estava orgulhoso, saí de casa na certeza de comprar um disco!!! Havia juntado três semanas de mesada!

Eu não sei exatamente o porquê, mas naquele dia eu larguei mais cedo, fui até a loja e me direcionei à prateleira que continha os discos dos anos 60, lá estavam os lp´s dos Beatles entre outros nomes como Elvis, Rolling Stones, Credence Clearwater Revival e The Mamas & The Papas. Como eu já conhecia alguns discos dos Beatles, decidi comprar aquele que me pareceria mais desconhecido.

Olhei aquela capa em preto-e-branco com uma colagem de fotos misturadas a 4 desenhos que representavam John, Paul, George e Ringo. Eu conhecia apenas duas músicas: Yellow Submarine e Eleanor Rigby. Comprei o Revolver, paguei exatamente Czr. 14.000,00. Peguei o ônibus com aquele monte de gente subindo quase ao mesmo tempo enquanto eu tentava proteger o vinil para que não amassasse ou quebrasse.

Cheguei e fui logo colocando o bolachão pra tocar. O que aconteceu em seguida foi algo que eu simplesmente não consigo descrever.

Uma voz fazia uma contagem “one, two, three, four” e entrava uma batida de guitarra com uma voz firme e logo em seguida uma bateria seca e marcante e depois um backing vocal. As lembranças são bem fragmentadas, mas me recordo de uns acordes de um instrumento para mim totalmente estranho (Love You Too), um riff de guitarra totalmente desconcertante (She Said She Said), um naipe de metais (Got to Get You Into My Life), uma voz que parecia lamentar algo (For No One), uma música que parecia vir de longe e se materializar (I Want To Tell You) e, por fim, uma coisa tão estranha e fascinante que até hoje me faltam palavras pra descrever (Tomorrow Never Knows).

Lembro claramente da minha reação, eu ficava no terraço me perguntando o que é isso? Que banda é essa? Que instrumento é esse? Quem canta isso? Me parecia que essa não era a banda que eu já conhecia há alguns anos.

A partir daquele momento, despertei um interesse em conhecer música, em busca de coisas novas (mesmo que sejam antigas), de descobrir novos sons, melodias, vozes, arranjos. De certa forma, aquela tarde e o Revolver moldaram minha personalidade. Creio que até hoje procuro aquela sensação, cheguei perto algumas vezes, mas nenhuma com tanta intensidade. Se hoje eu tenho o costume de “garimpar” cd´s e dvd´s em todas as lojas e cidades que visito, de ter a coleção que tenho, isso aconteceu graças ao Revolver e aos Beatles e aquela tarde de 1993.

O Revolver mudou minha vida!

RELICÁRIO - VOL.02 - A SOMTRÊS E PAULO RICARDO

Essa é uma relíquia jurássica que traz uma curiosidade. Na edição de maio de 1985, a “Revista Somtrês publicou uma matéria exclusiva com a banda inglesa “Iron Maiden”. A grande curiosidade era o correspondente da revista em Londres: Paulo Ricardo (foto 03). Em 1985 ele já não era mais jornalista da Somtrês. Havia fundado a banda RPM e despontava como grande nome do rock brasileiro. A foto que aparece na matéria é de 1983, quando Paulo teve a honra de viajar com o Iron pela turnê europeia.Confira abaixo:

Clique na imagem para ampliar

DEZ DISCOS OBSCUROS DE NOMES FAMOSOS

Por: Sidclay Pereira - Outro dia estava ouvindo um disco solo de Mick Jagger que tenho desde a adolescência e percebi como é bom e, mesmo assim, pouco conhecido. A partir desse momento, comecei a elaborar uma lista de discos obscuros de nomes famosos, porém estava ficando enorme e então decidi fazer um apanhado de 10 álbuns internacionais. Como toda lista, esta pode ser criticada à vontade!

Hindu Love Gods (Hindu Love Gods) (1990) – Esse é praticamente um disco de covers do R.E.M. sem o Michael Stipe nos vocais. Os três membros da banda se juntaram ao vocalista Warren Zevons para homenagear nomes como Robert Johnson, Muddy Waters, Woody Guthrie, Bo Diddley e Willie Dixon. O resultado é um excelente álbum que apresenta clássicos como Mannish Boy e Travelling Riveside Blues em versões bem inspiradas.

Mick Taylor (Mick Taylor) (1979) – Tido por muitos como o melhor guitarrista dos Rolling Stones é também ex-John Mayall and The Bluesbreakers. Taylor lançou uma obscura obra-prima como seu primeiro disco solo. Aqui é possível ouvir seu slide guitar, seus solos instigados e elegantes e melodias bem construídas. Um disco raro, mas que precisa estar na coleção de todos que apreciam o trabalho de um excelente guitarrista.

Music From The Body (Roger Waters) (1970) – Antes de fazer duas turnês mundiais no século XXI, antes de liderar o The Wall Live in Berlim, antes de sair do Pink Floyd falando muito, antes de escrever todas as letras de Dark Side Of The Moon, Waters fez esse disco com o Ron Geesin. É a trilha sonora de um documentário sobre o corpo humano e praticamente todas as músicas apresentam sons retirados do próprio corpo humano. É possível nesse disco perceber de onde veio o experimentalismo do Pink Floyd e ainda tem a participação de todos os membros da banda em Give Birth A Smile.

Raoul and The Kings of Spain (Tears For Fears) (1995) – Segundo disco após a separação da dupla, Raoul and The King of Spain apresenta uma banda bem diferente dos “hits” Shout e “Everybody Wants to Rule The World”. Destaque para a música título, Falling Down e a balada flamenca Sketches of Spain (uma alusão a Mils Davis?). Disco recomendável para todos que gostam de arranjos bem elaborados e letras inspiradas.

Carl & The Passion (The Beach Boys) (1972) – Não é o Beach Boys do Pet Sounds, não é nem sequer o Beach Boys de Brian Wilson, ele pouco participou da elaboração desse disco. É impressionante como a banda se reinventou, melodias com influência gospel; arranjos inventivos e grande destaque ao instrumental (normalmente davam uma atenção maior aos vocais). Destaque para Marcella que acena para o que iriam produzir a partir desse momento, porém Here She Comes é a melhor faixa.

Beatles for Sale (The Beatles) (1964) – é uma grande provocação e para alguns até um sacrilégio incluir qualquer coisa dos Beatles como obscura. Porém, esse disco nunca frequenta a lista dos preferidos dos beatlemaniacos ou dos simples apreciadores. Tem pérolas como I´ll Follow the Sun, No Reply e Baby´s in Black, além de covers melhores que os originais como Rock and Roll Music, Kansas City e Everybody´s Tryin´ To Be My Baby. Foi um disco feito às pressas para aproveitar o natal de 1964, mas é um discaço!

Wandering Spirit (Mick Jagger) (1993)– terceiro álbum solo do vocalista da “Greatest Rock´N´Roll band in the world”, pode-se ouvir um disco consistente, maduro e criativo com a presença do ainda iniciante Lenny Kravitz. Jagger faz um disco que apresenta música tradicional britânica (Handsome Molly), funk (Use me), soul (I´ve Been Lonely for So Long), rock (Wired All Night e Mother of a Man) e Stoneana (Put me in the trash). Recomendado não apenas aos fãs dos Rolling Stones.

K (Kula Shaker) (1999) – Primeiro disco da banda. Seria uma coleção de clássicos, caso tivesse sido lançado nos anos 70, nos anos 90 não causou tanto impacto. O disco é excelente da primeira à última faixa. Consegue trazer para a atualidade a sonoridade dos anos 60 com influência oriental. Destaque para Knight On The Town e 303. Pra quem gosta de rock´n´roll é quase impossível não curtir o K.

Walls and Bridges (John Lennon) (1974) – último disco solo de músicas inéditas, após esse ele faria o disco de cover Rock´N´Roll (1975) e depois dividiria o Double Fantasy (1980) com Yoko Ono. Trabalho excelente em todos os sentidos, a capa diferente de tudo que havia sido lançado até o momento. É o John Lennon atento ao que se produzia na época como em #9Dream e Whatever Get´s You Thru The Night (essa com Elton John), músicas aparentemente saídas do Abbey Road como Steel and Glass e What You Got e a belíssima Nobody Loves You When You´re Down and Out (que frase!). O disco menos famoso é, provavelmente, o melhor de Lennon.

Wild Life (Wings) (1972)– Primeiro álbum da recém formada banda de Paul McCartney, foi ensaiado e gravado em apenas duas semanas! Registra um pouco dos dias pós-beatles e toda a turbulência dos processos envolvendo os ex-membros como em Some People Never Knows e Dear Friend. Paul dá um show à parte no vocal da música título e ainda temos o hit Tomorrow.

EU E MINHAS TRALHAS

Sempre fui criticado por pessoas próximas (familiares e amigos) por ser uma pessoa que venera o passado. Tinha brigas homéricas com minha mãe porque ocupava o meu guarda-roupas e invadia o dela com um monte de tralhas que ninguém sabia o porquê de guardar. Outro dia recebi em casa um grande amigo de infância. Enquanto conversávamos mostrei-lhe, numa prateleira ao lado, a minha coleção de Revistas Bizz. Líamos compulsivamente esse periódico dedicado à música e esperávamos, ansiosos, pelo número seguinte. Sobre o fato de eu ainda conservar minha valiosa coleção de revistas, meu fraterno amigo, friamente, comentou: “Se fosse lá em casa minha mulher já tinha jogado fora”.

Pensei comigo: “Se minha mulher fizesse isso, me separaria dela”. Minha casa ficaria muitíssimo mais arrumada e organizada sem as minhas “coisas”, minhas tralhas, como dizem. Mas seria uma casa sem alma, sem as coisas de que gosto. Seria uma casa vazia. Bonita aos olhos dos outros – que, francamente, pouco me importam – mas não seria o meu lugar.

A internet aumentou minha ligação com o passado porque subverteu a ordem cronológica das coisas. O passado está logo ali, basta um clique. Esse maravilhoso anacronismo é a prova cabal de que não estou sozinho. O Google transformou-se num gigante desenterrando as memórias do passado e colocando-as lado a lado com o mundo pós-moderno. Todos os dias, quando sento diante do meu pecê, valho-me desse recurso que me surpreende diariamente. Recorro ao passado quase que cotidianamente. Reformulo ideias, reciclo conceitos e vou criando as minhas bases para caminhar no presente sem temer o futuro. Vivo.

GO DENNIS, GO !

Hoje, aos 74 anos, Dennis Hopper partiu para o infinito. O vídeo acima, extraído do clássico "Easy Rider", estrelado por Hopper, é carregado de simbologia e traduz com fidelidade o que representa essa momento: liberdade! Go Dennis, go!

A SIMPLICIDADE DO MESTRE E OS CHATOS SAZONAIS

Passei cinco dias numa formação de professores, tendo aulas das oito às dezoito horas. Nessa minha maratona diária, de troca de ideias e palestras, aprendi mais do que esperava. Tive a sorte de ouvir o professor Luiz Schetine falar. Ótimo palestrante, fala como se estivesse numa roda de amigos e consegue transmitir sua valorosa mensagem sem as costumeiras chatices das palestras sobre educação. Tenho percebido nas inúmeras palestras a que assisti, nas capacitações da vida, que o público, invariavelmente, prostra-se diante do palestrante por obrigação e suporta o falatório com extrema dificuldade.

Com o professor Schetine foi diferente. Rimos bastante, aprendemos bastante. Entre outras coisas, ele explicitou a importância de darmos mais atenção às perguntas formuladas pelos alunos do que às respostas. Quem sabe questionar está com a mente aberta para aprender. Quem aceita respostas prontas apenas reproduz conhecimento, não assimila. Lógica pura!

A simplicidade do velho professor me fez lembrar de outro assunto que sempre entra em voga em ano de Copa do Mundo: “a turma do contra”. Pode se preparar: quando você falar que vai assistir aos jogos e torcer pela Seleção Brasileira, vai aparecer um CHATO, daquele bem pernóstico, sazonal, que só aparece de quatro em quatro anos, com aqueles discursos pseudo-intelectuais que falam que o país não tem cultura, que os jogadores são vendidos, que existem coisas mais importantes que o futebol, blá, blá, blá, blá!

Não se pode mais assistir a uma partida de futebol em paz. Como o futebol é um fenômeno popular, torcer pela Seleção Brasileira agora é brega. E aqueles CHATOS que torcem pela Argentina? Esses são insuportáveis e incoerentes. Com o mesmo discurso dos “jogadores vendidos” eles viraram a casaca e foram torcer pelos “hermanos” que os chamam de “macaquitos”. Incoerência. A Europa está cheia de jogadores argentinos que, MERECIDAMENTE, ganham altos salários.

Portanto, dou-te um conselho. Assista aos jogos em casa com seus amigos de verdade e/ou com a família. Use sua camisa da Seleção Brasileira e não ligue para os “pseudo-intelectuais” e os argentinos do Paraguai. Quando a Copa acabar eles voltarão a hibernar e só retornarão daqui a quatro anos. Ignore-os, deixe-os latirem, eles ladram mas não mordem. Eles precisam aparecer, precisam de plateia e de MUITA atenção, sobrevivem disso. Quando o Brasil fizer um gol, abra a janela e grite, eles odeiam ver a nossa alegria. Quem paga suas contas é você, eles são apenas intrusos. Bola pra frente!

AQUELE SHOW DOS SECOS & MOLHADOS

Em 1974 o pop brasileiro experimentou seu primeiro grande espetáculo. Apesar de ter acontecido em época tão remota, esse show foi um dos maiores fenômenos de público já verificados no Brasil até hoje. A banda “Secos & Molhados”, formada três anos antes pelo cantor, compositor e artista performático, João Ricardo, protagonizou o espetáculo. O ginásio do Maracananzinho comportou um público de mais de 30 mil entusiasmados fãs. O espetáculo não foi apenas musical. Secos e Molhados era uma banda performática de vanguarda. Só apareciam em público com os rostos pintados e usando figurinos tribais. Anos depois seriam imitados pela banda de rock Kiss. O grande destaque dos Secos & Molhados era, sem dúvida, o carismático vocalista Ney Matogrosso. Ele dominava o palco de um jeito quase que teatral. Ney cantava e encenava as músicas. Abaixo, um raríssimo registro do grande show do Maracananzinho, com a poesia musicada, de Vinícius de Moraes, Rosa de Hiroshima .

DANIEL AZULAY E O DESENHO COLOQUIAL

Lembrei-me do Daniel Azulay, outro dia, quando rabiscava um desenho para um grupo de alunos da 5ª Série. Costumam tirar onda com o fato de que só sei desenhar dois personagens: Barney (Os Flintstones) e Tutubarão. Onde entra o Daniel nessa história? Bom, ele é um dos meus ídolos de infância, assistia a seus programas todos os dias e me deliciava vendo-o desenhar com tanta habilidade e sugerindo que aquele dom, por mais fantástico que parecesse, poderia ser compartilhado com todos. Aprendi a desenhar os dois personagens porque acreditava no que Daniel falava.

Daniel Azulay, como desenhista, era autodidata, sua formação acadêmica foi em Direito. Antes de se popularizar na tevê, desenhando histórias ao vivo, trabalhou por trás das câmeras criando vinhetas. Ganhou popularidade com a famosa “Turma do Lambe-Lambe”, no programa “TV Criança”, em 1981, na TV Bandeirantes. Mesmo como atração de uma tevê comercial, Daniel conduzia o seu programa com espírito de tevê educativa. Esse era o seu grande diferencial. Bastava assistir a um programa para acreditar que desenhar era fácil. E era mesmo!

Daniel Azulay, na verdade, é um grande educador. Tanto na tevê quanto nas palestras que ministra pelo Brasil afora, ele consegue transmitir credibilidade. Pra mim, a maior qualidade do educador é a credibilidade que ele tem perante os alunos. Desenhar com Daniel é fácil porque seu traço é coloquial, não tem a formalidade assustadora dos livros e cursos de desenho. Talvez seja por isso que até hoje sua imagem povoa o meu imaginário. “Algodão doce pra vocês!”

Turma do Lambe-lambe

Damiana
Pita
Gilda
Piparote
Prof. Pirajá
Ritinha
Tristinho
Xicória

A MÚSICA BRASILEIRA E ALGUNS DE SEUS CICLOS

A música, assim como diversas outras manifestações artísticas, vive de ciclos. Vez ou outra, um estilo musical se sobressai e sedimenta um ídolo. Alguns desses ídolos tornam-se perenes, mas a grande maioria cai no limbo do esquecimento. Da década de 50 (século XX) até os dias de hoje, a música brasileira experimentou diversos ciclos que comprovam essa tese. A Bossa Nova, elitizada na essência, ganhou o mundo como um ritmo popular do Brasil em meados da década de 50. Nascida da batida sincopada criada pelo baiano João Gilberto, esse estilo musical ganhou força na elite carioca e virou febre. Esse ciclo produziu alguns artistas geniais como Tom Jobim e Baden Powelll e “genializou” alguns nomes como João Gilberto e Roberto Menescal. Os bons de verdade sobreviveram à época de euforia do movimento.

Bem menos importante que a Bossa Nova (e sua contemporânea), a “Jovem Guarda”, um movimento com os pés fincados no universo popular, teve vida breve mas deixou como principal legado o cantor mais popular do Brasil, Roberto Carlos. A importância desse artista pode ser medida pelas homenagens que ele recebeu no Brasil e nos Estados Unidos por ocasião dos seus cinquenta anos de carreira. Nos Estados Unidos, sua gravadora preparou uma grande festa pelos cem milhões de discos vendidos ao longo da sua vitoriosa carreira. Muitos torcem o nariz para ele mas sua importância, para a música popular brasileira, é inegável. Como o Rei tem uma carreira bastante extensa e plural, cada um ouve o Roberto que quiser.

Na década de 70 a turma da Bahia, capitaneada por Caetano Veloso e Gilberto Gil, nos apresentou o tropicalismo. Foi um movimento muito mais performático do que musical. Os principais nomes do Tropicalismo – além de Gil e caetano, Gal Costa, Maria Bethania, Tom Zé e os Novos Baianos - muito antes do movimento, já tinham uma carreira de sucesso. Outros artistas conhecidos regionalmente tornaram-se nomes nacionais: Alceu Valença e Dominguinhos são dois bons exemplos.

No início da década de 80, mais precisamente em 1982, teve início o renascimento do rock brasileiro. A partir do estrondoso sucesso da banda performática, Blitz, com o single “Você Não Soube Me Amar”, a cena pop brasileira assumiu status de movimento e se popularizou. Alguns dos grandes nomes desse ciclo estão na estrada até hoje: Titãs, Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, Lobão e Capital Inicial. O movimento rock da década de 80 produziu alguns fenômenos de popularidade como o cultuado Legião Urbana, Cazuza, Barão Vermelho e RPM. Esse último chegou a vender mais de um milhão de cópias do dico “Rádio Pirata”.

Além dos grandes ciclos destacados acima, ao longo dos últimos cinquenta anos, a música brasileira experimentou pequenos movimentos que revelaram nomes importantes:

*Movimento Armorial (Recife): durante a década de 70, esse movimento artístico teve sua vertente musical da qual participavam Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Alceu Valença, Teca Calazans, Ave Sangria, Quinteto Violado e Lula Cortes, entre outros.

*Soul Music: durante a década de 70, o Brasil teve uma importante cena soul encabeçada por Tim Maia, Cassiano, Hildon, Tony Tornado, Carlos Dafé e a Banda Black Rio. Desse grupo, apenas Tim Maia conseguiu se firmar como um grande nome nacional.

*Movimento Mangue (Recife): Encabeçado por Chico Science e a Nação Zumbi, o Movimento Mangue estourou na década de 90. Mais importante do que a mistura de ritmos, tão celebrada pelos críticos, esse movimento musical cumpriu o importante papel de reaproximar os jovens da cultura popular. Chico Science, o grande nome desse ciclo, teve vida breve mas deixou um importante legado. Hoje em dia sua música serve de referência para inúmeras bandas que surgem todo ano na cena nordestina e brasileira.

A análise desses ciclos, bem como a inclusão ou não do nome de algum artista em determinado movimento, é absolutamente subjetiva, depende do olhar (e do ouvido) de quem vê (e escuta). A música tem essa particularidade. Além do mais, as experiências musicais dos inúmeros artistas acima citados tornam a classificação por estilos uma tarefa inglória. Salve a música brasileira!

PS: Grandes nomes da música brasileira ficaram de fora desse meu breve post pelo simples fato de não fazerem parte (pelo menos de forma ativa) de nenhum movimento.

O POP ROCK DA DÉCADA DE 80 RECICLADO NA MALHAÇÃO ID

Ouvi, por acaso, o cedê da trilha sonora da nova Malhação. Exatamente na temporada em que a novelinha teen agregou um “ID” (abreviação de identidade) ao seu nome, resolveram reciclar velhos clássicos do pop rock da década de oitenta. Será essa a nova identidade da série? Segue uma radiografia do cedê faixa por faixa:

A música que abre o disco traz uma releitura do mega hit do Lulu Santos, “Um Certo Alguém”. A versão do “NX Zero” não acrescentou nada à versão antiga, ficou com jeito de Karaokê. Gostei não. A faixa 02 resgata um grande sucesso do RPM, “Rádio Pirata”. A nova versão, criada pela “Hevo 84”, segue o padrão da maioria das bandas jovens do pop rock atual, um som na linha Green Day. O resultado não foi bom. Na faixa 03, a banda “Fresno” faz uma boa releitura de um clássico dos “Paralamas do Sucesso”, “Lanterna dos Afogados”. Apesar de terem mantido quase o mesmo arranjo original, o resultado ficou bem legal porque a voz do Lucas se encaixou perfeitamente na música.

A faixa 04 traz uma bela reedição de mais um hit do “Lulu Santos”, “Apenas Mais Uma de Amor”, com a doce voz da “Mylenna” e a participação especial do rei do cover, “Emerson Nogueira”. Muito bom. A faixa 05 também é excelente. Uma versão reggae do clássico dos Paralamas do Sucesso, “Meu Erro”, sob a tutela do “Chimarrutus”. Bom demais! A faixa 06 traz uma aguada reedição da clássica “Perdidos Na Selva”, sucesso da “Gang 90”. a versão do “Seu Cuca” deixou muito a desejar, é um dos pontos baixos do cedê. Na faixa 07, mais uma participação do “Hori”, dessa vez revisitando um hit do “Vinícius Cantuária”, “Só Você”. O resultado foi bom, mas a voz do Fiuk lembra muito a do Fábio Jr que já regravou essa canção. As comparações, obviamente, são inevitáveis.

A faixa 08 traz uma releitura de um dos maiores sucessos da “Blitz”, uma das precursoras do rock Brasil da década de 80. A canção “Mais Uma de Amor” foi competentemente revisitada pelo “Dibob”. Um ótimo momento do cedê. Na faixa 09, uma releitura do hit “Tudo Pode Mudar”, da banda franco-brasileira, “Metrô”. Se o original já soava um tanto quanto adolescente, a versão da “Julie” transformou a música num tema quase infantil. Além do mais, repetiram quase o mesmo arranjo do Metrô. Ruim demais! A faixa 10 traz um dos grandes equívocos desse cedê: o “Bonde da Stronda” com uma versão funk (carioca) de “Tic Tic Nervoso” do “Magazine”, a banda do Kid Vinil. A música soa artificial do começo ao fim. Muito ruim.

A faixa 11 traz uma versão ska do hit “Ciúme” do “Ultraje a Rigor” interpretado pela banda “Catch Side”. Esse é um bom momento do cedê, som de garagem puro! Na faixa 12 uma belíssima versão da canção “Fui Eu”, hit dos “Paralamas do Sucesso” e do “Sempre Livre”. A versão das “Ruanitas” deu nova vida à antiga canção com destaque para a belíssima voz da “Tay Dantas”. A faixa 13 mostra uma versão eletrônica do mega hit do “Lobão”, “Me Chama”, interpretada por “Babi”. Voz suave contrastando com teclados, batida eletrônica e guitarras produziram um bom resultado. Na faixa 14, a banda de reggae “Marauê” tinha uma missão importante: reeditar um dos maiores hits do pop rock da década de 80, “Sonífera Ilha”, dos Titãs. O resultado foi excelente. Transformaram a baladinha titânica num reggae cadenciado e muito, muito legal. Aprovadíssimo!

A faixa 15 traz um clássico da mpb que tem várias regravações: “Jorge Maravilha”. A versão Malhação ficou a cargo do “Playmobille” que cumpriu a tarefa com maestria. É um ótimo momento do cedê. Na faixa 16 mais um momento sofrível do cedê: uma fraquíssima versão do hit “A Fórmula do Amor”, originalmente gravada pelo “Kid Abelha & Leo Jaime”. A versão atual ficou a cargo do “Jammil”, que deixou muito a desejar. A faixa 17 traz uma regravação do hit escrachado do “Dr. Silvana & Cia”, “Serão Extra”, interpretado pela banda “Angela”. Se o original já não era grande coisa, a regravação conseguiu piorar ainda mais a música. Ruim demais! A faixa 18 traz o tema de abertura da Malhação, “Quem Sou Eu”, interpretada pela banda do “Fiuk”, o “Hori”. Já virou hit, claro. É um bom momento do cedê, a interpretação do Fiuk é o diferencial. Ouvi também uma faixa bônus com uma releitura do mega hit “Menina Veneno”, do “Ritchie”. A banda “Restart” rejuveneceu a música. Essa jurássica canção, lançada em 1983, fez parte do renascimento do pop rock brasileiro. Ouvi-la agora, com timbre adolescente, soa como algo poético.

Essa trilha sonora, apesar de cometer muitos equívocos, presta uma bela homenagem ao tão criticado pop rock brasileiro da década de 80.

Obs: clicando nas faixas descritas no texto, você pode ouvir todas as regravações e tirar suas próprias conclusões.

A FORÇA DO BELO E O PRECONCEITO NOSSO DE CADA DIA

Outro dia, numa dessas salutares conversas entre amigos, falávamos sobre a forma preconceituosa com que os países do chamado “Primeiro Mundo” tratam os brasileiros. Em uma das escolas em que trabalho, localizada na periferia de Olinda, em Peixinhos, de tempos em tempos aparecem os estudantes de intercâmbio, que passam um período frequentando a escola e participando do cotidiano das crianças. Certa vez, percebi num desses estudantes estrangeiros (oriundo da Irlanda) um certo asco ao observar as crianças e a estrutura precária da nossa escola. Dava pra ver no rosto da garota que ela estava chocada e amedrontada.

Obviamente, a leitura que fiz dessa imagem produziu em mim um sentimento de indignação. Tempos depois, num recuo de memória, lembrei-me do tempo em que trabalhava como vendedor numa loja de móveis de luxo. Depois da primeira semana transitando entre moveis laqueados e tantos outros itens de decoração, passei a achar a minha casa muito feia. Na época eu era muito jovem, é certo, mas lembro-me bem do quanto me tornei preconceituoso e passei a desdenhar dos móveis das casas por onde passava. Achava tudo feio.

Automaticamente fiz uma analogia e me coloquei no lugar da menina irlandesa, naturalmente pouco acostumada a ambientes de pobreza extrema, e entendi o comportamento que em princípio reprovei. A força do belo, mesmo sendo um conceito subjetivo, leva-nos a uma estupidez como essa. Outro exemplo: Costumamos dizer que “perto do Shopping Recife tem uma favela”. A comunidade do Entra a Pulso, localizada na entrada do Shopping, estava ali muito antes da construção do grande centro de compras. Na verdade, o shopping é que está perto da favela mas a força do belo nos induz a inverter os parâmetros de observação.

Quem trabalha com arte e arquitetura, por exemplo, enxerga as coisas sem se deixar levar por esse julgamento superficial. O velho casarão em ruínas é visto como uma obra de arte danificada e não como um imóvel velho que deve ser demolido. Criar parâmetros a partir do que a sociedade classifica como belo, é uma forma de exclusão comum nos dias de hoje. É por isso que o cabelo crespo é chamado de “ruim” e a mulher gorda é chamada de feia. Termino esse breve post parodiando Vinícius: “As bonitas que me perdoem, mas beleza é subjetivo”.

APRENDENDO A APRENDER

Antigamente quando frequentávamos a escola (dita tradicional) os professores despejavam conteúdos de forma sistemática executando o que Paulo Freire, sabiamente, chamava de “educação bancária” em que o aluno era um mero depositário de conhecimentos. Ao questionar essa forma inglória de se lecionar, numa dessas rodas de amigos, alguém repetiu aquele adágio presente em muitas palestras de auto-ajuda: “não dê o peixe, ensine a pescar”. Verdade seja dita, meu desencanto com o sistema público de ensino (no que se refere ao aluno) me faz pensar nisso de vez em quando.

A cada dia sedimento a ideia de que, mais que ensinar conteúdos, o importante é aprender a aprender. Quando você tem base pode extrair conhecimento de quase todo lugar. Lembro-me da minha professora de didática lá da Federal, “Roynolka” (não lembro se escreve assim, ela era húngara), a querida professora Roy. Em uma de suas aulas ela usou um gibi da Turma da Mônica. Um dos alunos questionou: “professora, um gibi de história em quadrinhos numa aula de didática na Federal ?”.

Bom, o fato é que a aula era sobre saber reconhecer a realidade e as dificuldades dos alunos. O gibi em questão era do “Chico Bento”. Na historinha ele era perseguido pela professora porque chegava sempre atrasado e às vezes dormia na aula. Num belo dia, a professora dirigia-se para a escola e passou pela zona rural da cidade. De longe ela viu o Chico Bento trabalhando duro no roçado e entendeu o porquê dele chegar sempre atrasado. Apesar de ser apenas um garoto, trabalhava duro e acordava muito cedo.

A professora Roy, nessa aula com material didático inusitado, mostrou o valor de saber 'aprender a aprender'. Nessa mesma aula relatei um fato ocorrido comigo enquanto assistia ao capítulo de uma novela. Num dado momento, numa mesa de restaurante, formou-se um triângulo amoroso: Edu (Reynaldo Gianecchine), Helena (Vera Ficher) e Miguel (Tony Ramos). A filha de Miguel, vendo a cena, comentou: “Veja só um triângulo amoroso inusitado”. O amigo dela, que estava ao lado, completou: “E é um triângulo escaleno”. Os dois riram e a cena seguiu. “Triângulo escaleno?” fiquei pensando. Ignaro em matemática, fui ao dicionário e aprendi que se tratava de um triângulo com lados diferentes. Fiz a analogia e entendi o comentário visto na novela.

O problema é que grande parte das pessoas que assiste às novelas não tem base para extrair algum conhecimento daquela fonte (exígua, reconheço). Falta saber aprender a aprender. Quem tem estrutura absorve cultura nas mais inusitadas fontes. Sorte que me ensinaram a pescar.

if (myclass.test(classes)) { var container = elem[i]; for (var b = 0; b < container.childNodes.length; b++) { var item = container.childNodes[b].className; if (myTitleContainer.test(item)) { var link = container.childNodes[b].getElementsByTagName('a'); if (typeof(link[0]) != 'undefined') { var url = link[0].href; var title = link[0].innerHTML; } else { var url = document.url; var title = container.childNodes[b].innerHTML; } if (typeof(url) == 'undefined'|| url == 'undefined' ){ url = window.location.href; } var singleq = new RegExp("'", 'g'); var doubleq = new RegExp('"', 'g'); title = title.replace(singleq, ''', 'gi'); title = title.replace(doubleq, '"', 'gi'); } if (myPostContent.test(item)) { var footer = container.childNodes[b]; } } var addthis_tool_flag = true; var addthis_class = new RegExp('addthis_toolbox'); var div_tag = this.getElementsByTagName('div'); for (var j = 0; j < div_tag.length; j++) { var div_classes = div_tag[j].className; if (addthis_class.test(div_classes)) { if(div_tag[j].getAttribute("addthis:url") == encodeURI(url)) { addthis_tool_flag = false; } } } if(addthis_tool_flag) { var n = document.createElement('div'); var at = "
"; n.innerHTML = at; container.insertBefore(n , footer); } } } return true; }; document.doAT('hentry');