A IMPORTÂNCIA DAS ESCOLHAS

Cresci num bairro pobre do Recife, para se ter ideia do que isso significa, por muitas vezes a capital pernambucana figurou na lista das cidades mais hostis para um jovem viver, chegou a ser a quarta pior do mundo na década de 90. Recife é uma cidade dificílima de se viver para quem mora em um bairro pobre. Por várias vezes retrocedi mentalmente buscando respostas para entender o porquê de eu ter vencido e sobrevivido a tudo isso, acabei sempre chegando à questão das escolhas. Parece simples, mas uma escolha errada pode determinar o fracasso de quem vive sem ter direito a uma segunda chance.

Percebo agora que, instintivamente, quase sempre fiz as escolhas certas: escolhi os amigos certos, falávamos de cinema, televisão e música. Enquanto outros se perdiam na violência da vida, eu e meus poucos amigos de infância nos preocupávamos em descobrir o porquê do Lennon ter escrito “essa” e o Paul “aquela”, as mensagens nas entrelinhas dos textos do Renato Russo, chegamos a passar um dia inteiro tentando decifrar os detalhes de uma capa de disco enquanto o mundo explodia lá fora. Não, isso não era alienação, era esperteza, o nosso mundo era bom porque nós o fazímos assim. Só para que fique registrado, meus amigos ainda são quase os mesmos.

Tive poucas oportunidades na vida, mas aproveitei (muito bem) todas. Fui aluno de escola pública no momento em que ela começou a declinar, perder o brilho, muitos desistiram, optaram pelo subemprego, um biombo que esconde um monstro devorador de vidas. Eu escolhi ficar. Obviamente, por ser jovem e inexperiente, temia pelo meu futuro, tive momentos de dificuldades, chorei várias vezes, mas não arredei o pé da escola. Cumpri essa etapa da vida, heroicamente, porque eu escolhi ficar!

Como ninguém é perfeito, houve um momento em que escolhi errado: conclui o Segundo Grau (Ensino Médio) e como naquela época (1986) pensava que a universidade era um sonho utópico, decidi não tentar. Essa escolha errada me custou quase uma década de desacertos e desencontros, mas como não costuma acontecer com os jovens dos bairros pobres, me foi dada a chance de escolher de novo. Consegui um bom emprego numa multinacional do ramo automobilístico e, como a maioria, poderia ter me acomodado com aquela benesse temporária. Escolhi tentar a faculdade para transformar a benesse temporária em algo perene. Estudei, passei no vestibular, me formei, fiz mais amigos, passei em quatro concursos públicos, fiz duas pós-graduações e continuo alimentando sonhos, tudo porque escolhi certo.

Abaixo, um dos hinos da minha juventude. Devo muito a essa música:

PARA QUE SERVE O CID ?

2009 tem sido um ano difícil para mim. Passei por dois problemas de saúde mas, enfim, sobrevivi. Além do desconforto de estar doente, tive que enfrentar outro problema: o impasse entre os médicos e a Junta Médica (órgão que defere, ou não, as dispensas médicas dos funcionários públicos). Dois dos médicos que me atenderam recusaram-se a colocar o CID (Classificação Internacional de Doenças) alegando que o uso do referido código foi suspenso por uma questão de ética. O sigilo médico e a exposição (constrangedora) da doença do paciente são razões também alegadas.

Completamente alheias a essa orientação, as juntas médicas exigem a colocação do CID nos atestados sob pena do indeferimento dos mesmos. Por duas vezes, nesse ano, estive no meio desse impasse. A contragosto, e protestando contra Deus e o mundo, os médicos que me atenderam acabaram colocando o tal código. Profundamente irritado com isso abri o “oráculo que tudo sabe”, o Google, e fui pesquisar. Deparei-me com a “Resolução CFM nº 1.819/2007” publicada no Diário Oficial da União em 22 de Maio de 2007, que resolveu no seu Art. 1º “Vedar ao médico o preenchimento, nas guias de consulta e solicitação de exames das operadoras de planos de saúde, dos campos referentes à Classificação Internacional de Doenças (CID) e tempo de doença concomitantemente com qualquer outro tipo de identificação do paciente ou qualquer outra informação sobre diagnóstico, haja vista que o sigilo na relação médico-paciente é um direito inalienável do paciente, cabendo ao médico a sua proteção e guarda”.

Mas, como nada é perfeito, esse mesmo artigo, no seu parágrafo único (irritantemente subjetivo), dá margem a interpretações diversas: “Parágrafo Único. Excetuam-se desta proibição os casos previstos em lei ou aqueles em que haja transmissão eletrônica de informações, segundo as resoluções emanadas do Conselho Federal de Medicina”. Não sou jurista, mas percebo que uma coisa ficou clara nessa Resolução: é permitido o uso do CID se a receita (ou qualquer outro documento médico) for transmitida eletronicamente. Algo como um doc. com assinatura digital enviada por e-mail.

Agora, imagine você com uma crise de Cefaleia em Salvas (dor de cabeça intensa e constante) sendo jogado de um lado para o outro por causa desse impasse? Passei por isso e me senti de mãos atadas. Pretendo enviar esse post à Ouvidoria Pública aqui do Estado de Pernambuco e rogo que as pessoas que passaram (ou passarem) por esse problema também reclamem. Respeito é o que queremos.

Quem quiser conferir a Resolução CFM nº 1.819/2007 na íntegra, clique aqui.

DESTRINCHANDO O CEDÊ DA SUSAN BOYLE


Hoje tive o prazer de ouvir I Dreamed a Dream”, o tão esperado cedê de estreia do fenômeno midiático Susan Boyle. O álbum foi lançado com toda pompa no dia 23 de novembro passado, com direito a capa na Rolling Stones americana e tudo o mais. Por falar em capa, tomei um susto (no bom sentido) quando vi a foto do cedê. A imagem que eu – e o mundo todo – tinha da Susan era daquela simpática senhora inglesa de meia-idade. Em tempos de Photoshop, o milagre da transformação da imagem tornou-se algo corriqueiro. Como pode-se notar, na foto que ilustra esse post, Susan Boyle mudou bastante.
O disco é uma deliciosa colcha de retalhos, foi feito para agradar a gregos e troianos. Começa com “Wild Horses”, dos Stones. Nessa canção, a voz da Susan ficou bem diferente, nem parece ela. Quem ouve não consegue associar a voz à imagem dela. A versão ficou belíssima. Em seguida vem a chatinha “I Dreamed A Dream”, música que revelou a cantora para o mundo. Só aí você se lembra daquela cena do show de calouros que virou hit no Youtube. Na sequência vêm dois grandes standards da música americana: “Cry Me River”, escrita por Arthur Hamilton e gravada por Ella Fitzgerald e "How Great Thou Art”, uma canção do século XIX , sucesso na voz de Elvis Presley em 1974. As duas canções tiveram tratamento especial, arranjos impecáveis e a interpretação dela ficou a altura dos dois clássicos. Obviamente os puristas torcerão o nariz, mas ninguém poderá dizer que o vozeirão da Susan maculou os clássicos.
Depois do rock e dos clássicos, o disco envereda pelo pop. A faixa cinco traz “You'll See”, a belíssima canção da Madona. Não gostei dessa faixa porque ficou muito parecida com o original. Em determinados trechos não dá pra ter certeza se é Susan ou a própria Madona que está cantando. A sexta faixa traz um clássico dos Monkees, “Daydream Believer”, cantada em voz e piano. Impecável! A sétima faixa é um dos pontos altos do álbum. Susan interpreta o folk “Up To The Mountains” de forma espetacular. Em alguns momentos parecia a Linda Ronstadt cantando. Nessa canção, ela arriscou notas mais altas e acertou em cheio.
A partir da religiosa “Amazing Grace”, o disco fica um pouco monótono chegando a ficar cansativo nas faixas "Who I Was Born To Be", "Pround" e "The End Of The World". O álbum termina de forma apelativa com a canção natalina “Silent Night (Noite Feliz)”, claramente incluída para alavancar o disco nas vendas de fim de ano. Com certeza Susan Boyle terá um Natal diferente.

A INQUISIÇÃO PARTICULAR DE COTTON MATHER

Muito já se falou a respeito das atrocidades cometidas, “em nome de Deus”, pela Igreja Católica durante a Idade Média. O assunto é clássico e sempre gera muita polêmica. Entretanto, alguns eventos que copiaram o modelo de perseguição e tortura praticado pelos inquisidores católicos são vistos de forma distorcida ou atenuados com a eufêmica classificação de “manifestação folclórica”.

Um desses episódios foi protagonizado por Cotton Mather, no século XVII, na colônia inglesa da Nova Inglaterra, hoje, Estados Unidos. Mather nasceu numa família puritana e teve rígida educação. Filho do influente Reverendo Increase Mather, foi um garoto prodígio, ingressou na conceituada Faculdade de Harvard com apenas 12 anos. Com 18 anos incompletos já era detentor do título de mestrado em medicina.

Cotton queria ser professor em Harvard, mas uma limitação funcional aniquilou esse sonho: ele era gago. Frustrado, por não atuar na função que sempre sonhou, acabou optando pela vida religiosa. Obviamente, a mudança forçada de rumo na sua vida deixou marcas que transformaram o ex-aspirante a professor em uma figura amarga.

Em 1865, com apenas 22 anos, Cotton começou a atuar como pastor assistente ajudando o seu pai. A vida religiosa não o afastou da medicina. Aplicado, estudava os distúrbios da mente, sobretudo a histeria. Ciência e religião transitaram na vida de Mather e, por vezes, acabaram se misturando. Seu nome foi eternizado no polêmico caso dos julgamentos das Bruxas de Salém, ocorridos em Massachusetts, em 1692. Mather era o religioso responsável pelo vilarejo de Salém. Ali, ele era encarregado de fazer as acusações contra os supostos praticantes de bruxaria. Estes eram levados a julgamento na corte do juiz Samuel Sewall que seguia, sem contestar, as indicações dele.

As perseguições às supostas Bruxas de Salém começaram a partir do julgamento de uma escrava de nome Tituba, que diziam ser praticante de vuduismo. Na verdade, Tituba havia contado histórias sobre vudus - Comuns na África Ocidental, seu local de origem - para algumas amigas que ficaram impressionadas e acabaram tendo pesadelos. Um médico acabou atestando que as meninas estavam embruxadas. Uma histeria coletiva tomou conta de Salém e dezenas de mulheres foram declaradas bruxas sendo, posteriormente, executadas na fogueira.

Cotton Mather, um intelectual com formação clássica, transformou-se num cruel inquisidor que conseguia, inclusive, contaminar pessoas importantes com suas teses de satanismo e bruxaria. O próprio juiz Samuel Sewall, anos depois, reconheceu que as execuções ocorridas no vilarejo de Salém foram um erro. O modelo de Mather é reproduzido até os dias de hoje. Cansamos de ver na tevê histórias de linchamentos (físicos e de ordem moral) em que a histeria se sobrepõe à razão, tudo em nome da lei.

Abaixo, o trailer do Filme "As Bruxas de Salém (The Crucible)", bastante útil para melhor compreensão dessa triste história.

O APITO DO ELMO E A SURDEZ DE CLEBER E MARCÍLIA

Gosto muito de futebol, mas ando meio sem ter o que ver já que o meu time, o Santa Cruz, foi enterrado na quarta divisão. Isso mesmo, quarta divisão, o ponto mais próximo do inferno que um time pode chegar. Mas, viciado que sou, fui ver Palmeiras e Sport na última quarta-feira. Na partida anterior, o Verdão havia jogado contra o São Paulo e reclamou da arbitragem. Muricy até invadiu o campo para tomar satisfações com o árbitro. No jogo com o Sport, o Palmeiras começou levando dois gols e iniciou-se o drama.

Durante quase toda a partida, heroicamente, o quase rebaixado Sport comportou-se como um time de primeira divisão. Sem a pressão do rebaixamento – já que o fato era dado como quase certo – o time jogou leve e merecia, inclusive, a vitória. Mas, como vem acontecendo nesse campeonato, o árbitro resolveu aparecer. O senhor Elmo Cunha apitou (equivocadamente) o impedimento do zagueiro Danilo, que marcou o segundo gol do Palmeiras. As câmeras mostraram que o jogador estava em posição legal, mas, com o apito, os jogadores do Sport pararam. Inexplicavelmente, o juiz fingiu-se de morto e validou o gol.

Esse estúpido "erro" foi detectado por TODOS que assistiam a transmissão da Rede Globo. Deu para ouvir claramente o apito do senhor Elmo. Para minha surpresa, o narrador Cleber Machado – que eu reputo como um dos melhores da tevê – e o comentarista de arbitragem Renato Marcília, amarelaram. Fingiram que não ouviram o que todo mundo ouviu. Lembrei-me, na hora, do humorista Chico Anísio. Na década de 90 ele comentava jogos nas transmissões da Globo. Terminou desistindo do ofício. Quando perguntaram o porquê da desistência, ele explicou: “É impossível ser honesto e comentar com imparcialidade se os comentaristas da Globo usam um ponto eletrônico no ouvido e ficam recebendo ordens durante a transmissão”. Será que Cleber e Marcília receberam uma ordem para se fingirem de surdos? Nunca saberemos, mas isso pouco importa, a arbitragem tendenciosa ficou clara. Dessa vez, o técnico Muricy Ramalho não invadiu o campo para reclamar.

O Sport Recife entrou com um processo no STJD pedindo a anulação da partida. Claro que isso não vai acontecer. Se fizesse parte do quadro de árbitros da FIFA, assim como Carlos Eugênio Simon, o senhor Elmo Cunha ganharia um prêmio: seria incluído na lista de árbitros pré-selecionados para a Copa do Mundo. É o futebol brasileiro. "Erros" de arbitragem continuarão acontecendo e narradores e comentaristas continuarão fingindo-se de surdos e cegos.

O MURO QUE CAIU E O MURO QUE AINDA RESISTE

O Muro Que Caiu

Há exatos vinte anos, na noite do dia 09 de novembro de 1989, um dos maiores símbolos da Guerra Fria começou a desmoronar. Durante vinte e oito anos o chamado “Muro da Vergonha”, dividiu a Alemanha e a vida de muita gente. Ironicamente, essa linha divisória de concreto foi construída pelo lado alemão que trazia a democracia no nome: República Democrática Alemã.

Durante as quase três décadas que ficou erguido, o muro provocou a morte de oitenta pessoas que foram devidamente identificadas e fazem parte, agora, dessa triste história. Muitos conseguiram transpor essa barreira física e saíram ilesos. A imagem do soldado da Alemanha comunista soltando o fuzil e correndo para o lado capitalista, virou um ícone da Guerra Fria e foi usada em diversos cartazes e propagandas contra o muro.

A Queda

Se a construção do muro foi considerada um equívoco, a queda também começou a partir de um FELIZ equívoco. Na tarde do dia 09 de Novembro de 1989, Günter Schabowski , porta-voz do Partido Socialista Unificado, anunciou na imprensa uma decisão do Conselho dos Ministros de abolir as restrições de trânsito entre as duas Alemanhas. A decisão passaria ainda pelos trâmites legais para que todas as agências de segurança tomassem conhecimento. Entretanto, depois da divulgação da notícia, a população da Alemanha Oriental entendeu que aquele já era o anúncio do fim do muro. A multidão marchou em direção a grande muralha e a história se consumou. Era o fim de um dos maiores símbolos da estupidez humana.

O Muro Que Ainda Resiste

Em 2002, o então primeiro ministro israelense Ariel Sharon, com a justificativa de barrar a entrada de terroristas palestinos em Israel, ordenou a construção de uma muralha que separava os territórios da Cisjordânia de Israel. A muralha israelense, diferentemente da alemã, que era política, é baseada na segregação. Na Alemanha, um povo de uma mesma etnia foi dividido. Na Cisjordânia, o muro divide etnias diferentes. A grande (e triste) ironia dessa história é que os israelenses estão usando um princípio nazista, o da superioridade de uma raça sobre outra.

O “muro da vergonha” israelense continua sendo erguido e avança sobre territórios que Israel julga ser de sua propriedade. Várias entidades de direitos humanos pelo mundo afora condenam essa obra e fazem relação com seu antecessor alemão. No último dia 06, manifestantes palestinos conseguiram deslocar um pedaço da muralha e fizeram um protesto relâmpago contra a obra e o governo de israel.

Esse modelo de segregação, infelizmente, já chegou ao Brasil. No Rio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral ordenou a construção de muralhas para isolar onze favelas. A primeira foi erguida no morro Dona Marta (foto ao lado). Para exemplificar o que significa isso, termino esse post com uma frase de Salah Tamir, prefeito de Belém, uma das cidades isoladas pelo muro israelense: “esse muro está convertendo Belém em uma grande prisão ao impedir a livre circulação dos seus habitantes”.

LEMBRA-SE DAQUELE COMERCIAL?

Outro dia estava eu a garimpar revistinhas de cifras de violão – hábito quase deixado de lado depois das facilidades da internet – num sebo do centro do Recife. Dei de cara com uma revista de 1982 que trazia, entre os sucessos da época, as cifras de dois jingles dos comerciais da calças US Top. Pensei: “tem gente por aí que senta numa roda de amigos e fica tocando essas músicas?”. Já em casa, fui ao violão e relembrei as duas belas canções. Não foram simples jingles, foram sucessos estrondosos que as pessoas cantarolavam até no chuveiro:

Em 1976:

Liberdade é uma calça velha azul e desbotada

Que você pode usar do jeito que quiser

Não usa quem não quer

US Top, desbote e perca o vinco

Denim índigo blue”

Em 1982:

"Um jeans é pouco do céu, um jeans é um pouco do sol

É só você se soltar caminhar nessa estrada

E andar nesse caminho natural

Vamos deixar nossas marcas no chão

No caminho US Top"

Vivíamos numa época de dura repressão política e esses jingles refletiam a ideia de liberdade, muitos morreram sem consegui-la. Os dois jingles que destaquei acima fizeram muito sucesso entre os jovens. Entretanto, o maior sucesso de todos os tempos na propaganda brasileira foi o a canção “Estrela Brasileira” da empresa de aviação Varig. Escrito por Caetano Zamma, foi veiculado inicialmente no rádio, na década de 60, depois foi levado à tevê onde virou hit com o Coral Rubem Berta:

"Estrela brasileira no céu azul

Anunciando de norte a sul

Mensagem de amor e paz

Nasceu Jesus, chegou natal

Papai noel voando a jato pelo céu

Trazendo um natal de felicidade

E um ano novo cheio de prosperidade

Varig, Varig, Varig"

Para os saudosistas, seguem os vídeos dos jingles citados no post.

JULGANDO O DISCO PELA CAPA VOL. 02

Bob Dylan – The Freewheelin (1963): O segundo álbum do trovador do rock tem uma linda capa. Não sou muito fã do Bob Dylan, confesso que não entendo como ele é tão cultuado até hoje. Mas isso é outra história, o que está sendo julgado aqui é a capa. Nesse quesito o álbum “ The Freewheelin” é nota 10.

John Lennon – Yoko Ono - Two Virvens (1968): um disco experimental lançado na fase pré-carreira solo de Lennon. Imagine o escândalo que essa capa provocou em 1968, ano do seu lançamento. A EMI recusou-se a lançar o disco e a dupla Lennon – Yoko teve que recorrer a um selo independente. O disco não tem músicas, apenas uma série de experimentos sonoros.

Dabbie Harry – Koo Koo(1981): ver o rosto belíssimo da Blondie Dabbie Harry atravessado por agulhas causou mais emoção do que a audição das doze faixas desse disco. Essa capa é sempre lembrada como uma das melhores da década de 80.

Sepultura – Roots (1996): A melhor capa do Sepultura, sem dúvidas. Essa imagem tribal marcou a guinada que a banda deu no seu som. Desagradou a muitos, é certo, mas, no geral, o disco foi celebrado. O clipe da música “Roots, blody roots” feito a partir de animação, fez muito sucesso.

Rollingssss Stones – Tatto You (1981): Os Stones são especialistas em capas boas. Essa imagem do disco Tatto You, dizem, inspirou a criação da personagem, “Mistica”, da série X-Men.

Os Mutantes – Os Mutantes (1968): capa boa e disco bom! Nada mais precisa ser dito sobre essa obra. Os Mutantes sempre foram performáticos, mas nunca deixaram que a misancene fosse mais importante que a música. Uma dádiva!

Roxy Music – Country Life (1971): Todos os discos do Roxy Music (exceto Avalon – 1981) trazem mulheres na capa. Em Coutry Life, a banda recrutou duas prostitutas que causaram escândalo ao aparecerem semi-nuas. O disco é um dos melhores da banda, traz o clássico "The Thrill Or It All".

Gal Costa – Índia (1973): essa capa sensualíssima (e belíssima) fazia a alegria dos adolescentes na década de setenta, um clássico. Esse disco é mais uma exemplo da dobradinha capa boa-dico bom.

Nirvana – Nevermind (1991): Essa clássica capa do Nirvana é tão boa que até o presidente Lula resolveu imitar (confira aqui). É um dos ícones da geração grunge. Mais um exemplo da dobradinha disco bom-capa boa.

The Clash – London Calling (1979): A capa do grande disco do The Clash foi a última grande imagem do movimento punk da década de setenta. Em quase todas as listas dos grandes discos de rock de todos os tempos, “London Calling” está entre os dez primeiros, sendo que, em várias eleições ele está no topo. Não bastasse esse histórico sonoro, tem essa iconográfica capa. Sem palavras!

GALEGUINHO DO COQUE E BIU DO OLHO VERDE - QUANDO O BANDIDO VIRA LENDA

O cinema e a tevê costumam transformar os bandidos em heróis, isso todo mundo sabe. Muitos reclamam e alegam que esse tipo de culto incentiva crianças, e pessoas de índole fraca, a enveredar para o lado do crime. No Nordeste, esse tipo de discussão remete sempre à figura de Lampião. Herói ou bandido, o fato é que Virgulino Ferreira da Silva virou lenda assim como tantos pelo Brasil afora: Madame Satã, Lúcio Flávio, o Bandido da Luz Vermelha, Doca Street, Ronald Biggs, dentre outros.

Na história policial recente de Pernambuco, alguns nomes de criminosos que atuavam nas décadas de setenta e oitenta, viraram lenda nas crônicas populares. O grande Chico Science na canção “Banditismo por Uma Questão de Classe”, citou duas dessas lendas do crime: “Biu do Olho Verde” e “Galeguinho do Coque”. Lembro-me bem desses dois nomes que aterrorizaram o Recife quando eu era criança.

Biu do Olho Verde, um jovem de 17 anos, nascido nos Bultrins, periferia de Olinda, além de assaltante era torturador, gostava de submeter suas vítimas – na grande maioria, mulheres – a torturas que deixariam os roteiristas de “Jogos Mortais” no chinelo. Uma das histórias que contam sobre ele diz que, depois de assaltar uma mulher ele perguntou: “quer levar um tiro ou um beliscão?” Logicamente, aterrorizada pela possibilidade de ser baleada, a mulher optou por um beliscão. Ele, então, sacou de um alicate e arrancou os mamilos dos dois seios da mulher, que ficou agonizando de dor. O radialista Jota Ferreira, que fazia muito sucesso na época com um programa no rádio e na tevê chamado “Blitz, Ação Policial”, declarou ter-se encontrado com Biu do Olho Verde e que o mesmo desmentira todas as histórias envolvendo torturas com alicate. Em seu blog, Jota publicou uma declaração, atribuída ao bandido, que teria sido dada num encontro que os dois tiveram na década de 80:

Jota, eu não sou 'fulêro'. Sou macho e esses cabras da Polícia são tudo maricas, 'tendeu'?...Num adianta, 'véi', tu ficar me xeretando porque tu não vai 'arrumá' nada, sacou? Num sei nem que danado é um alicate de unha, porra..! Nunca ameacei ninguém de beliscar os peitos se não me der dinheiro, 'tendeu'? Agora, já mandei uns cinco pro inferno, tá ligado?. Eu gosto de dinheiro e 'mulé'... e tem que ser boa, visse? 'Mulé' merda eu nem paro..! Pergunta às 'mulé' se eu maltratei alguma delas..!”

Galeguinho do Coque”, que nasceu “Everaldo Belo da Silva”, começou a praticar pequenos furtos ainda adolescente. Assim como Biu, ele era diferente do esterótipo dos meninos de rua incutido na mente de quase todo mundo: menino negro ou mulato. Como o próprio apelido denunciava, ele era galego e muito “paquerado” pelas meninas. O que tornou o Galeguinho do Coque famoso foram as suas espetaculares fugas. Ele assaltava e fugia para o Coque, ninguém o encontrava. Em 1971, entretanto, ele foi preso e condenado. Na cadeia, converteu-se à religião evangélica e abandonou o crime. Apareceu na tevê várias vezes falando de Deus e maldizendo sua pregressa vida de crimes. Everaldo Belo mudou para o bairro Alto do Jordão, na periferia do Recife, onde abriu um pequeno comércio.

Muitos não acreditavam na regeneração de Galeguinho do Coque. Alegavam que ele usava a religião como disfarce. Alguns anos depois, foi encontrado morto num terreno baldio na cidade de Moreno. Ao lado do corpo, uma bíblia com as páginas centrais cortadas, escondia um revólver calibre 38. Várias versões foram cogitadas na época. Houve quem dissesse que a cena foi armada para justificar a execução dele. O fato é que a saga desse meliante virou lenda e mora no imaginário de muita gente que viveu nessa época.

SHOW DO U2 INAUGURA UM NOVO CONCEITO DE VER TV

Quando alardearam que o show do U2 seria transmitido ao vivo, via Youtube, pensei: “vai ser um sofrimento: tela travando, som falhando”. Para minha surpresa, e de muitos, “Live From The Rose Bowl” inaugurou um novo conceito no que se refere a transmissões de tevê. Exatamente a 01:30h da madrugada de hoje, o canal foi aberto no Youtube e a revolução começou. De início mostraram toda a estrutura montada no Rose Bowl (palco do tetra brasileiro). Um palco redondo, no centro do estádio, cercado por uma gigantesca passarela que permitia a banda circular por entre o público, inclusive com uma ponte. Vista a distância, a estrutura lembrava uma grande aranha.

Enquanto um contador regressivo marcava a espera do início do show, imagens de outras apresentações foram mostradas seguidas de comentários dos integrantes da banda. Pontualmente às 02:00h, a banda subiu ao palco dando inicio ao show. A primeira canção foi "Breathe". O gigantesco evento foi transmitido sem interrupções e sem apresentador. Ou seja, não foi um programa de tevê, foi um show na sua essência mais pura.

Acompanhei o show e participei do fuzuê que congestionou o Twitter. A cada música, uma enxurrada de comentários, observações sobre variações nas letras – um vício do Bono – e um turbilhão de euforia. Definitivamente, quem acompanhou esse espetáculo foi "testemunha ocular da história", como diria o Repórter Esso.

O show, na íntegra, está disponível no Youtube. Quem não pôde acompanhar em tempo real, pode baixar (usando o VDownloader, é leve, eficiente e gratuito) e curtir. Abaixo o setlist do show e o vídeo disponível no Youtube:

01. "Breathe"

02. "Get On Your Boots"

03. "Magnificent"

04. "Mysterious Ways"

05. "Beautiful Day"

06. "I Still Haven't Found What I'm Looking For"

07. "Stuck In A Moment You Can't Get Out Of"

08. "No Line on the Horizon"

09. "Elevation"

10. "In A Little While"

11. "Unknown Caller"

12. "Until The End Of The World"

13. "The Unforgettable Fire"

14. "City Of Blinding Lights"

15. "Vertigo"

16. "I'll Go Crazy If I Don't Go Crazy Tonight"

17. "Sunday Bloody Sunday"

18. "MLK"

19. "Walk On"

Bis 20. "One"

21. "Where The Streets Have No Name"

Bis 2 22. "Ultraviolet (Light My Way)"

23. "With Or Without You"

24. "Moment of Surrender"

O VIOLÃO FALANTE DE RAPHAEL RABELLO

Descobri a arte de Raphael Rabello por acaso. Fanático que sou pelos instrumentais da Cor do Som, buscava numa loja um disco do Armandinho e descobri um duo que o grande mestre baiano gravou com Raphael: “Armandinho & Raphael Rabello – Música Viva”. Fiquei impressionado com o talento do violonista. A partir de então, passei a acompanhar a trajetória meteórica desse grande músico.

Raphael começou a estudar violão com seu irmão e, posteriormente, passou a ter aulas com o Jaime Florence, o Mestre Meyra, um dos professores do lendário Baden Powell. Mas, a grande influência de Raphael Rabello foi o violonista “Dino 7 Cordas” com quem teve aulas e herdou o instrumento. O garoto prodígio passou a chamar a atenção dos mestres do violão. Com apenas 14 anos gravou um choro com Turibio Santos e as portas do sucesso foram abertas. Raphael gravo com grandes nomes da emepebê: Tom Jobim, Elizeth Cardoso, Ney Mato Grosso, entre outros.

Raphael Rabello fazia o violão falar. Tinha uma técnica impressionante e sabia dosá-la sem incorrer nos exageros que vemos hoje em dia. Grandes nomes da música instrumental e da crítica especializada não pouparam elogios:

"O melhor violonista que eu já ouvi em anos. Ele ultrapassou as limitações técnicas do violão, e sua música vinha progressivamente de sua alma, diretamente para os corações de quem o admirava." (Pacco de Lucia).

" Esse é um dos melhores violonistas que eu já ouvi." (Lee Ritenour – Jazz Times Magazine).

"Raphael Rabello foi simplesmente um dos maiores violonistas que já existiu. Seu nível de introspecção no potencial do instrumento só foi alcançado, talvez, pelo grande Paco de Lucia. Ele foi ‘o’ Violonista Brasileiro de nosso tempo, na minha opinião. Sua morte, em uma idade ainda tão jovem e uma perda incrivelmente dolorosa, não apenas pelo que ele já tinha feito, e sim pelo que ele poderia vir a fazer." (Pat Metheny).

"Ele foi um incrível violonista. Eu nunca vi igual… ele foi único." (Francis Heime).

"Se o violão tem se estabelecido mais uma vez como a principal voz instrumental da música moderna brasileira, muito do crédito pode ser dado a Raphael Rabello…" (Mark Holston – Guitar Player Magazine).

No auge do sucesso, Raphael sofreu um acidente de carro e precisou fazer uma transfusão de sangue. O músico acabou contraindo o vírus HIV. Essa tragédia provocou uma mudança de comportamento nele que se entregou ao álcool e as drogas. Raphael mergulhou no submundo desesperado com sua condição de aidético. Acabou morrendo de infecção generalizada no dia 27 de abril de 1995, tinha apenas 33 anos.

Os dois discos do Raphael que eu mais gosto, ironicamente, são lançamentos póstumos: “Cry My Guitar”, de 1994 e “Mestre Capiba”, uma coletânea de frevos em que Raphael atuou como arranjador, produtor, músico e até cantou numa das faixas. Nesse raro registro, nomes como “Chico Buarque”, “Alceu Valença”, “Paulinho da Viola”, “Maria Bethania”, “Caetano Veloso”, “Gal Costa”, “Ney Mato Grosso”, "Claudionor Germano", "Milton Nascimento", “João Bosco” e “Maria Rita” desfilam clássicos frevos do Mestre Capiba. O próximo dia 31 de outubro é o dia do aniversário de Raphael Rabello. Sim, ele está vivo, os artistas são imortais.

BREVE HISTÓRIA SOBRE O RADICALISMO

Há poucos dias, por mero acaso, andei discutindo com dois amigos sobre Josef Stalin. Falava eu sobre os exageros do sanguinário ditador e citei o Massacre de Katin- tema de um post recente – promovido contra oficiais e civis poloneses na Segunda Guerra. O amigo Maro (assim mesmo, sem 'i'), um velho barbeiro, comunista até a alma, contestou a veracidade da história contada pelos poloneses ignorando, inclusive, as evidências levantadas no local do massacre. Vale lembrar que em 1989, Mikhail Gorbachev reconheceu a responsabilidade russa e em 1992 o então presidente Boris Yeltsin entregou a Lech Walesa provas materiais do crime. Nada disso importa, para o materialista radical, o que vale é preservar a memória de Stalin.

Tive a mesma conversa com o amigo Hugo, professor de Física de uma das escolas onde trabalho. A reação foi a mesma: incredulidade diante dos fatos. Mesmo reconhecendo que nunca ouviu falar dos acontecimentos de Katin, radicalmente, disse que era tudo mentira. Tudo inventado para manchar a imagem do “grande líder”. Costumeiramente, os marxistas criticam os fanáticos religiosos pelo radicalismo e pela forma cega como depositam sua fé em Deus. Noto que o comportamento dos marxistas, que descrevi acima, é exatamente igual, só muda o deus.

Crentes ou não, os radicais são iguais e morrerão fiéis às suas convicções. Afinal, reconhecer o erro, ou o defeito do seu objeto de admiração, seria reconhecer o erro de uma opção de vida. Poucas pessoas têm grandeza para tanto.

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