
Obviamente, a leitura que fiz dessa imagem produziu em mim um sentimento de indignação. Tempos depois, num recuo de memória, lembrei-me do tempo em que trabalhava como vendedor numa loja de móveis de luxo. Depois da primeira semana transitando entre moveis laqueados e tantos outros itens de decoração, passei a achar a minha casa muito feia. Na época eu era muito jovem, é certo, mas lembro-me bem do quanto me tornei preconceituoso e passei a desdenhar dos móveis das casas por onde passava. Achava tudo feio.
Automaticamente fiz uma analogia e me coloquei no lugar da menina irlandesa, naturalmente pouco acostumada a ambientes de pobreza extrema, e entendi o comportamento que em princípio reprovei. A força do belo, mesmo sendo um conceito subjetivo, leva-nos a uma estupidez como essa. Outro exemplo: Costumamos dizer que “perto do Shopping Recife tem uma favela”. A comunidade do Entra a Pulso, localizada na entrada do Shopping, estava ali muito antes da construção do grande centro de compras. Na verdade, o shopping é que está perto da favela mas a força do belo nos induz a inverter os parâmetros de observação.
Quem trabalha com arte e arquitetura, por exemplo, enxerga as coisas sem se deixar levar por esse julgamento superficial. O velho casarão em ruínas é visto como uma obra de arte danificada e não como um imóvel velho que deve ser demolido. Criar parâmetros a partir do que a sociedade classifica como belo, é uma forma de exclusão comum nos dias de hoje. É por isso que o cabelo crespo é chamado de “ruim” e a mulher gorda é chamada de feia. Termino esse breve post parodiando Vinícius: “As bonitas que me perdoem, mas beleza é subjetivo”.