Sim,
elas existem, tenho observado de longe alguns exemplares de seleto
grupo de seres que se dizem humanos. Falo assim porque os humanos de
verdade, por vezes, falham, transgridem, isso faz parte da vida. O que
diferencia os bons e os ruins, é a medida em que essas transgressões
acontecem. Os de índoles maleáveis, claro, fazem parte do “lado
negro da força” porque transgridem cotidianamente.
Em
geral, o grupo dos perfeitos é composto por pessoas tristes e solitárias que parecem brigar com o mundo todos os dias. A perfeição
os impede de se relacionarem bem com os outros. Como conviver com as
falhas e as transgressões alheias sem se aborrecer? Impossível para eles. Para
os outros também é difícil. Não sabemos, ao certo, como lidar com
a “pureza” dessas pessoas. Na dúvida, melhor não arriscar. É
por aí que nascem as barreiras, os campos minados e todos os biombos
que separam o seleto grupo dos perfeitos do resto dos pobres mortais.
Os
perfeitos jamais tomaram aquele porre homérico que você tomou na
juventude, não correram na chuva por medo do resfriado, nunca pisaram na grama ou repetiram a sobremesa. Jamais, em hipótese alguma,
tocaram a campainha e correram, nunca enfiaram o dedo no bolo, não
jogaram aviãozinho de papel, não colaram chiclete embaixo da banca,
nunca filaram. Até na Bíblia – Eclesiastes 3 – a variação de
conduta é defendida, há tempo para tudo, mas as pessoas perfeitas
ignoram isso. Como é difícil encontrar iguais, os poucos que
existem quase não têm amigos porque ninguém suporta a chatice deles. Na
certeza de que mudarão o mundo perdem o precioso tempo da vida
franzindo a testa ostentando um ar de superioridade alegórico, feito
de papel marchê. Algum dia quando, por descuido, tomarem aquela
chuvarada, o cenário cairá e eles se arrependerão do tempo que
perderam na utópica luta para serem perfeitos.