A
novela global, Cordel Encantado, para quem ainda não percebeu, é
uma colagem de vários textos clássicos. Só pra citar alguns: “O
Homem da Máscara de Ferro” (Alexandre Dumas), “O Conde de Monte
Cristo” ( Alexandre Dumas), “Grande Sertão :Veredas”
(Guimarães Rosa) e referências sobre a saga do cangaceiro Lampião,
da Guerra de Canudos e do Brasil Império.
Identificando
As Referências
Na
trama, o Rei Augusto e a Rainha Cristina viajam da fictícia
Seráfia do Norte para o Brasil em busca de um tesouro escondido pelo
fundador de seu reino. Uma clara referência a transferência da
Família Real Portuguesa para o Brasil. A forma como os personagens
da corte lidam com a honra e a corrupção marcam essa analogia.
As
referências a Guimarães Rosa estão na estética da obra, que
retrata um sertão cheio de licenças poéticas e, claro, a Diadorim,
um dos personagens centrais de “Grande Sertão: Veredas”. No
livro, a filha de um fazendeiro assume a figura masculina
de um jagunço, “Diadorim”, para mergulhar no universo do pai. Acaba
protagonizando uma intrigante história de amor com final trágico. A
sexualidade de Diadorim é revelada, apenas, na sua morte, para
desespero do apaixonado Riobaldo.
Na
novela global a reedição dessa história tem como protagonistas
“Doralice” (Natália Dill) e “Jesuino” (Cauã Reymond). Ele,
filho de um cangaceiro, acaba formando seu próprio bando para
combater Timóteo Cabral. Ela, filha do prefeito, assume a figura do
cangaceiro “Fubá” e entra para o bando do amado Jesuino. Assim
como no texto de Guimarães Rosa, a sexualidade da garota só é
revelada quando ela é ferida em combate.
As
referências a Alexandre Dumas são explícitas: o "Duque Petrus"
(Felipe Camargo) é aprisionado numa masmorra, a mando da "Duquesa
Úrsula" (Débora Bloch), amargando o castigo de usar uma máscara de
ferro. A forma como Petrus escapa da masmorra foi copiada,
literalmente, do texto de “O Conde De Monte Cristo”: ele
fingiu-se de morto ocupando o lugar de um velho, companheiro de cela, cujo corpo é jogado no mar.
As
referências a Canudos são a vila de Brogodó, que reproduz a vila
original da guerra, com casas de taipa e pau-a-pique e o personagem
“Miguézim”, um religioso apocalíptico baseado na figura de
Antônio Conselheiro.
Por
fim, a referência ao cangaceiro Lampião e seu bando, representado
na novela pelo “Capitão Herculano” (Domingos Montagner), um
cangaceiro que é pai do personagem principal da trama, o jovem
Jesuino.
O
resultado dessa mistura, de tão diferentes universos literários e
estéticos, é uma surreal narrativa muito diferente do padrão
normalmente adotado nas novelas, mesmo as de época. Outra novidade
está na forma como o folhetim foi filmado, em “24 quadros”, se
assemelhando a imagem de película. A produção, calcada no universo
nordestino, apesar dos costumeiros erros na construção do sotaque,
é uma feliz novidade.